A valorização do dólar frente ao real registrada nas últimas semanas
já anima os empresários mineiros do setor de bens de capital. Segundo
representantes das empresas, caso a moeda norte-americana continue registrando
altas e mantenha o ritmo de valorização, em breve já será possível falar em
recuperação da competitividade do setor no Brasil.
De acordo com o diretor da Associação Brasileira de Máquinas e
Equipamentos (Abimaq), em Minas Gerais, Marcelo Veneroso, que também é
diretor-geral da Neuman & Esser América do Sul Ltda, subsidiária da alemã
Neuman & Esser, ainda não é possível fazer qualquer projeção acerca do
aquecimento das vendas, por se tratar apenas de um ensaio na recuperação dos
patamares antigos. Porém, ele destaca que caso a valorização se mantenha,
certamente os resultados virão.
"Para se ter uma ideia, somente com a alta observada nas últimas
semanas, podemos dizer que os maquinários na Neuman ficaram 19% mais baratos.
Isso significa que se há alguns meses nossos produtos estavam 40% mais caros
que os fabricados no exterior, hoje estamos na casa dos 20%. Se continuar
subindo, logo poderemos falar em recuperação", explica.
Somente na última semana, a moeda norte-americana acumulou alta de
1,56 ponto percentual, encerrando a sexta-feira cotado em R$ 1,95. E ontem
fechou cotado a R$ 1,987.
Por outro lado, Veneroso lembra que somente a valorização do câmbio
não será suficiente para a total recuperação do setor, que no primeiro
trimestre deste ano acumulou um déficit de US$ 4,4 bilhões, contra os US$ 4,1
bilhões registrados de janeiro a março de 2011.
Desempenho - "Não adianta termos um câmbio favorável e
continuarmos sem condições de investimentos no país. Só conseguiremos retomar
de fato o desempenho do período pré-crise a partir do momento que nos tornarmos
competitivos perante os mercados externo e interno. E o interno só terá condições
de demandar nossos serviços quando for interessante para as empresas
investir", ressalta.
Ele lembra ainda que se por um lado a sobrevalorização do real frente
ao dólar prejudicou as exportações de máquinas e equipamentos, por outro,
acabou beneficiando as importações e, conseqüentemente, os aportes das empresas
do segmento na modernização do parque fabril.
"Todo empresário faz inversões apostando no sucesso do mercado
comprador. Por mais que no momento esteja teoricamente mais vantajoso buscar equipamentos
lá fora, não há um horizonte positivo para os negócios. Porém, muitas vezes,
esses aportes nem chegam a surtir efeitos nas vendas, já que não há
demanda", alerta.
O proprietário e presidente da Delp Engenharia Mecânica, Petrônio
Machado Zica, por sua vez, aposta que a cotação do dólar por volta da casa dos
R$ 2,20 vai inibir bastante as importações do setor, permitindo que as empresas
brasileiras recuperem parte de sua competitividade, pelo menos, diante do
mercado nacional.
No entanto, ele concorda com Veneroso de que isso não será suficiente
para a recuperação do setor. "Isso parte de uma série de ações que inclui
ainda a desoneração dos investimentos privados e as reformas tributária e
trabalhista do país", completa.
Zica ressalta que algumas das medidas já anunciadas pelo governo
federal como forma de incentivar a indústria brasileira, entre elas a
desoneração da folha de pagamentos, irão ajudar nesta recuperação. "A
combinação desta e de outras medidas como a redução dos juros, algumas isenções
fiscais e a valorização do câmbio é que trará os resultados", afirma.
O industrial admite que embora o dólar barato tenha prejudicado ainda
mais a competitividade da empresa, a baixa cotação foi vista como uma
oportunidade para a realização de investimentos. Assim, mediante aportes de R$
20 milhões o parque fabril da Delp foi todo modernizado ao longo do ano
passado.
Efeito - Já o diretor da Tecnometal, Marcelus Araújo, avalia a alta do
dólar ainda muito recente e flutuante para traçar qualquer conseqüência às
importações e exportações do setor. "No nosso caso a questão principal nem
diz respeito às exportações, mas à concorrência com os importados dentro do
país. Temos que esperar o efeito das ações anunciadas, bem como a estabilização
do dólar para somente depois comemorar", afirma.
Apesar de não revelar valores, Araújo destaca que a empresa aproveitou
o cenário favorável às importações para investir na renovação do parque fabril
da Tecnometal. " claro que não tomamos essa decisão somente baseados no
câmbio, mas também como única forma de aspirar a competir, apostando na
recuperação da produção. Se com uma fábrica moderna já está quase impossível
manter a competitividade, imagine com equipamentos defasados", diz.
Fonte: Diário do Comércio
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