O Brasil não crescerá este ano os 4,5% projetados pelo Ministério da
Fazenda, admitem fontes do governo. A economia vem apresentando, nesse primeiro
semestre, desempenho abaixo do esperado, por causa dos investimentos. Uma taxa
pouco acima de 3% é considerada mais realista.
Técnicos acreditam que novas medidas de incentivo à economia poderão
ser adotadas a partir de junho, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) divulgar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do
primeiro trimestre. O número modesto deverá provocar reação do governo, como já
indicou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele disse na quinta-feira que há
espaço para a adoção de políticas que garantam um crescimento acima do
registrado no ano passado (de 2,7%).
Há, porém, quem avalie que não há motivos para ansiedade. A taxa de
crescimento modesta não deverá afetar a avaliação do governo, nem a
popularidade da presidente Dilma Rousseff, porque o emprego e os salários
continuam em alta neste início do ano.
Além disso, é esperado que a economia esteja rodando em ritmo de crescimento
de 5% a 6% no final do ano. "O Natal vai ser bom, melhor do que no ano
passado", afirma um interlocutor da presidente. Mesmo que a média do ano
termine pequena, em torno de 3%, a "sensação térmica" no período
eleitoral e no final do ano será próxima de 5%.
A virada do meio do ano ocorrerá por causa de medidas já adotadas pelo
governo. O corte dos juros e os incentivos do Plano Brasil Maior deverão
mostrar seus efeitos, inclusive sobre o que foi mal no início deste ano, que
são os investimentos. Se é o caso de adotar medidas adicionais ou não, é algo
em avaliação. Haverá, além disso, a recuperação das operações de crédito, que
estiveram fracas como reflexo do nível de atividade.
O grande limitador para novos estímulos ao crescimento é a política fiscal.
Mais desonerações só deverão ocorrer se a arrecadação de impostos se mostrar
mais forte do que o esperado ou se as despesas ficarem abaixo do previsto. Além
disso, devem ser feitos ajustes na Medida Provisória 563, que lista os setores
que terão desoneração da folha de salários a partir do segundo semestre.
O governo já concordou, por exemplo, em ampliar a lista de segmentos
do setor de bens de capital incluídos na desoneração. Outros setores deverão
ser beneficiados, de forma que a conta de perda de arrecadação ainda vai
aumentar. É pela falta de espaço fiscal que o governo hesita em reduzir o
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações de crédito. A
arrecadação do tributo é importante para cumprir a meta fiscal.
Entre as medidas de estímulo, especula-se que o Banco Central pode
liberar recursos dos depósitos compulsórios para facilitar o crédito. Porém,
como os bancos públicos e privados acabaram de baixar o custo de suas operações
- o que teria, na prática, efeito semelhante à liberação do compulsório - a
tendência é aguardar.
Inflação
Mesmo a recente alta do dólar não deverá afetar a recuperação esperada
para o segundo semestre. A avaliação no governo é que o impacto sobre os preços
é pequeno. "O câmbio é só um dos componentes da inflação", observa
uma fonte. Enquanto o dólar caro puxa os preços para cima, a atividade fraca os
puxa para baixo. Noves fora, a decisão é do Banco Central. Todo esse cenário
econômico depende, porém, do que ocorrer na economia internacional. O acirramento
da crise europeia é acompanhado com atenção pela equipe de governo.
Fonte: O Estado de São Paulo
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