A pesquisa da Deloitte concluiu que os custos das funções financeiras
ainda são mais baixos - e vantajosos - na América Latina do que nos Estados
Unidos
Letícia Sorg
Um estudo da consultoria Deloitte, obtido com exclusividade pela
Agência Estado, mostra que os custos financeiros das empresas brasileiras são
os maiores da América Latina, o que representa um desafio para a
competitividade do País na região. A consultoria chegou a essa conclusão depois
de analisar 70 critérios de custos e desempenho das equipes de CFOs (Chief
Financial Office) em 51 empresas latino-americanas e compará-los com os
resultados médios de empresas americanas.
A pesquisa concluiu que os custos das funções financeiras ainda são
mais baixos - e vantajosos - na América Latina do que nos Estados Unidos. Mas
isso é cada vez menos verdadeiro no caso do Brasil. Os custos financeiros nas
empresas do País são o dobro do das companhias chilenas, por exemplo.
"Havia uma noção de que qualquer coisa na América Latina seria
mais barata do que nos Estados Unidos", afirma Omar Aguilar, líder global
da prática de finance transformation da Deloitte. De fato, na América Latina,
as funções financeiras custam, em média, US$ 3,8 milhões por US$ 1 bilhão de
receita a menos do que nos Estados Unidos. "Mas estamos observando uma
variação maior de preços. O Brasil está se tornando mais caro do que os outros
países da região, o que levanta dúvidas sobre sua competitividade."
Segundo o executivo, a prosperidade da economia brasileira gerou uma
apreciação do real, aumentou os custos de estrutura, de mão de obra e de vida e
levou empresas estrangeiras a alocar seus serviços em países vizinhos, como
Argentina ou Chile. "Temos visto multinacionais escolherem outros países
da região que não o Brasil, que seria a escolha óbvia."
Para Aguilar, a fuga do Brasil ainda não é uma tendência alarmante,
mas está acontecendo e coloca sobre o País a pressão de melhorar a eficiência
ao mesmo tempo em que cresce. E a saída para enfrentar o desafio, segundo o
executivo da Deloitte, é investir em tecnologia.
De acordo com o estudo, as empresas da América Latina gastam de duas a
três vezes menos com tecnologia nas funções financeiras do que as americanas.
Por um lado, isso significa uma economia no custo total do setor; por outro,
exige que as companhias contratem um número maior de funcionários em processos
menos eficientes.
As empresas latinas empregam, em média, 89% mais funcionários por US$
1 bilhão de receita do que as companhias americanas. No comparativo entre os
países da América Latina, as empresas da Argentina são as que mais empregam:
271 funcionários por bilhão de rendimento. O Brasil é o que emprega o menor
número de funcionários - 156 -, mas também é o que tem o custo mais alto de mão
de obra. O custo por profissional no Brasil é de US$ 94.631 - contra US$ 33.810
na Argentina.
O baixo uso de tecnologia leva as empresas latino-americanas a
empregar uma parte maior de seus funcionários em tarefas operacionais, de menor
valor agregado. Segundo o levantamento da Deloitte, as latinas usam 81% mais
mão de obra no processamento de transações do que as americanas.
Com menos tecnologias e mais funcionários, as empresas da América
Latina sofrem com processos mais manuais e mais complexos. As empresas
latino-americanas processam manualmente 1,6 vez mais dados do que as
concorrentes americanas. E emitem 48% mais relatórios de desempenho do que uma
empresa nos Estados Unidos. Em média, são 182 relatórios mensais por bilhão de
receita na América Latina e 123 nos EUA.
Para Celso Kassab, sócio da área de consultoria da Deloitte, nem as
intrincadas estruturas legal e fiscal do Brasil podem servir como desculpa para
ineficiência dentro das empresas. "Muitas companhias não usam sistemas de
ERP e backoffice para processar suas transações", afirma Kassab. "O
CFO tem várias funções, entre elas a operacional e a estratégica. Mas, para se
tornar estratégica, a área precisa ser mais eficiente nos processos operacionais."
O estudo mostra que as empresas latinas que usam mais tecnologia para
automatizar pagamentos, remessas, relatórios, entre outras funções financeiras,
economiza 35% só com pessoal. Como, no Brasil, a mão de obra custa mais caro,
intensificar o uso de tecnologia faz-se ainda mais necessário.
"Quase todos os temas são comuns a todos os países da América
Latina: o baixo uso de tecnologia, a alta complexidade, o foco nos processos
transacionais", diz Aguilar. Mas o Brasil tem um aspecto único, o alto
custo do trabalho, que aumenta a importância da eficiência. "Há muito a
ser feito para melhorar a competitividade do Brasil em relação a países como os
Estados Unidos."
Fonte: Agência Estado
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