quarta-feira, 23 de maio de 2012

Desaceleração da economia preocupa governo e analistas

A fórmula de crescimento econômico gerada, principalmente, pelo consumo interno está quase em seu limite de eficácia. De acordo com especialistas entrevistados pelo DCI, os números que antecipam a divulgação oficial do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano mostram que as medidas adotadas pelo governo não estão gerando impactos na demanda e nem no aumento da produtividade do País. E que ações menos pontuais, como se fazer uma Reforma Tributária, mesmo que "fatiada", começam a se tornar prioridades.

Na última sexta-feira, o Banco Central (BC) divulgou seu cálculo para a atividade econômica no acumulado de janeiro a março de 2012, chamado IBC-Br. Na série dessazonalizada, o indicador mostrou queda de 0,23%, o que levou a um crescimento de 1,57% nos últimos 12 meses.

Se comparar os primeiros três meses de 2011 em relação ao trimestre anterior, a alta foi de 0,19%. Já neste ano, nessa mesma análise foi observado um avanço menor, de 0,15%. Desta forma, o indicador mostra que houve desaceleração da atividade econômica. Além disso, nas variações mensais, tanto janeiro, quanto fevereiro e março apresentaram retrações de 0,26%, 0,38% e 0,35%, respectivamente.

O economista Manuel Enriquez Garcia, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP) - da Ordem dos Economistas do Brasil - e professor da FEA/USP, afirma que os números preocupam. "As medidas adotadas pelo governo, como o pacote de estímulo à indústria, e a redução dos juros não estão surtindo efeitos. Tanto é que no primeiro trimestre a produção industrial caiu 3%", diz.

A opinião é endossada pelo professor da Escola de Negócios da Universidade Anhembi Morumbi, Marcello Gonella. "As ações de caráter fiscal foram muito pontuais, no curto prazo não resolvem. E na política monetária, os efeitos ainda não foram sentidos na ponta [demanda]", analisa o especialista.

Ambos afirmam que as altas taxas de inadimplência das famílias também é um fator que impede um crescimento maior do PIB. "Seriam necessários um novo contingente de consumidores, como ocorreu na chamada nova classe C, para que tenhamos a mesma expansão de antes. Ou seja, não é só o ambiente externo que traz problemas para o PIB, o doméstico também. Se mantivermos o ritmo atual podemos avançar ao final deste ano o mesmo patamar do acumulado de 2011, de 2,7%, ou até menos", prevê Garcia.

De acordo com ele, por exemplo, se devolver de 10% a 20% dos depósitos compulsórios aos bancos, desde que esse recurso seja para financiamento de bens de consumo duráveis, teria um efeito mais imediato no crédito, e assim, na economia.

De qualquer forma, Gonella comenta que chegou a hora do governo tomar medidas mais eficazes para reduzir a carga tributária de todos os setores. E de fazer outras reformas, mesmo que pequenas, no sistema tributário. "A política monetária parece ser a que mais impacta na economia, mas há limites para isso."

Por outro lado, não é só entre especialistas que o comportamento da atividade econômica preocupa. Segundo fonte governamental que pediu para não ser identificada, o IBC-Br no primeiro trimestre parece ter acendido a luz amarela na equipe da presidente Dilma Rousseff. "Ainda que haja algum deslocamento entre o comportamento do IBC-Br e do PIB, o dado mostra que o PIB do primeiro semestre pode vir abaixo do esperado, por exemplo, pelo Banco Central", diz a fonte.

Contudo na última sexta-feira, o governo reafirmou que a expectativa é de que a economia crescerá com mais força no segundo semestre. E no final do ano, o aumento do PIB seja de 4,5%.

Juros futuros

Outro sinal de preocupação foi de que, junto com a piora externa que se alongou por toda a semana, o resultado negativo do indicador da autoridade monetária foi o gatilho para colocar muitos investidores na ponta mais agressiva das apostas.

Assim, ao término da negociação normal na BM&F, o DI janeiro de 2013 (544.630 contratos) estava em 7,75%, de 7,79% na quinta-feira e de 7,95% na sexta-feira da semana anterior.

O DI janeiro de 2014 (420.605 contratos) cedia a 8,07%, de 8,18% no ajuste e 8,47% há uma semana. Entre os longos, o DI janeiro de 2017 (74.650 contratos) marcava 9,46%, de 9,54% na véspera, enquanto o DI janeiro de 2021 (4.695 contratos) apontava 10,02%, de 10,09% e após migrar para o patamar de um dígito no intraday, a 9,94%.


Fonte: DCI

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