A fórmula de crescimento econômico gerada, principalmente, pelo
consumo interno está quase em seu limite de eficácia. De acordo com
especialistas entrevistados pelo DCI, os números que antecipam a divulgação
oficial do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano mostram que
as medidas adotadas pelo governo não estão gerando impactos na demanda e nem no
aumento da produtividade do País. E que ações menos pontuais, como se fazer uma
Reforma Tributária, mesmo que "fatiada", começam a se tornar
prioridades.
Na última sexta-feira, o Banco Central (BC) divulgou seu cálculo para
a atividade econômica no acumulado de janeiro a março de 2012, chamado IBC-Br.
Na série dessazonalizada, o indicador mostrou queda de 0,23%, o que levou a um
crescimento de 1,57% nos últimos 12 meses.
Se comparar os primeiros três meses de 2011 em relação ao trimestre
anterior, a alta foi de 0,19%. Já neste ano, nessa mesma análise foi observado
um avanço menor, de 0,15%. Desta forma, o indicador mostra que houve
desaceleração da atividade econômica. Além disso, nas variações mensais, tanto
janeiro, quanto fevereiro e março apresentaram retrações de 0,26%, 0,38% e
0,35%, respectivamente.
O economista Manuel Enriquez Garcia, presidente do Conselho Regional
de Economia de São Paulo (Corecon-SP) - da Ordem dos Economistas do Brasil - e
professor da FEA/USP, afirma que os números preocupam. "As medidas
adotadas pelo governo, como o pacote de estímulo à indústria, e a redução dos
juros não estão surtindo efeitos. Tanto é que no primeiro trimestre a produção
industrial caiu 3%", diz.
A opinião é endossada pelo professor da Escola de Negócios da
Universidade Anhembi Morumbi, Marcello Gonella. "As ações de caráter
fiscal foram muito pontuais, no curto prazo não resolvem. E na política
monetária, os efeitos ainda não foram sentidos na ponta [demanda]",
analisa o especialista.
Ambos afirmam que as altas taxas de inadimplência das famílias também
é um fator que impede um crescimento maior do PIB. "Seriam necessários um
novo contingente de consumidores, como ocorreu na chamada nova classe C, para
que tenhamos a mesma expansão de antes. Ou seja, não é só o ambiente externo
que traz problemas para o PIB, o doméstico também. Se mantivermos o ritmo atual
podemos avançar ao final deste ano o mesmo patamar do acumulado de 2011, de
2,7%, ou até menos", prevê Garcia.
De acordo com ele, por exemplo, se devolver de 10% a 20% dos depósitos
compulsórios aos bancos, desde que esse recurso seja para financiamento de bens
de consumo duráveis, teria um efeito mais imediato no crédito, e assim, na
economia.
De qualquer forma, Gonella comenta que chegou a hora do governo tomar
medidas mais eficazes para reduzir a carga tributária de todos os setores. E de
fazer outras reformas, mesmo que pequenas, no sistema tributário. "A
política monetária parece ser a que mais impacta na economia, mas há limites
para isso."
Por outro lado, não é só entre especialistas que o comportamento da
atividade econômica preocupa. Segundo fonte governamental que pediu para não
ser identificada, o IBC-Br no primeiro trimestre parece ter acendido a luz
amarela na equipe da presidente Dilma Rousseff. "Ainda que haja algum
deslocamento entre o comportamento do IBC-Br e do PIB, o dado mostra que o PIB
do primeiro semestre pode vir abaixo do esperado, por exemplo, pelo Banco
Central", diz a fonte.
Contudo na última sexta-feira, o governo reafirmou que a expectativa é
de que a economia crescerá com mais força no segundo semestre. E no final do
ano, o aumento do PIB seja de 4,5%.
Juros futuros
Outro sinal de preocupação foi de que, junto com a piora externa que
se alongou por toda a semana, o resultado negativo do indicador da autoridade
monetária foi o gatilho para colocar muitos investidores na ponta mais
agressiva das apostas.
Assim, ao término da negociação normal na BM&F, o DI janeiro de
2013 (544.630 contratos) estava em 7,75%, de 7,79% na quinta-feira e de 7,95%
na sexta-feira da semana anterior.
O DI janeiro de 2014 (420.605 contratos) cedia a 8,07%, de 8,18% no
ajuste e 8,47% há uma semana. Entre os longos, o DI janeiro de 2017 (74.650
contratos) marcava 9,46%, de 9,54% na véspera, enquanto o DI janeiro de 2021
(4.695 contratos) apontava 10,02%, de 10,09% e após migrar para o patamar de um
dígito no intraday, a 9,94%.
Fonte: DCI
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