O fraco crescimento apontado pelo Índice de Atividade Econômica do
Banco Central (IBC-Br), que avançou apenas 0,15% sobre o último trimestre de
2011, feitos os ajustes sazonais, coloca em xeque a recuperação da economia
esperada a partir do segundo trimestre e, aliado à piora do cenário
internacional, sinaliza que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012
será até menor do que os 2,7% registrados em 2011.
A avaliação é do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, para
quem a recente deterioração do quadro externo pode ter um impacto ainda maior
do que a crise de 2008 na economia doméstica. “Serão três anos de crescimento
baixo”, projeta. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Valor: O que o dado do IBC-Br sinaliza para o PIB do primeiro
trimestre?
Sérgio Vale: Ele veio bem fraco e captou a tendência de desaceleração
no primeiro trimestre em relação aos trimestres anteriores. Permanecemos
projetando que o PIB cresceu 0,5% em relação ao último trimestre de 2011 [série
com ajuste sazonal], mas realmente o sentido é de desaceleração, pode ser até
algo mais baixo do que isso. A essa altura, contudo, o primeiro trimestre já
não é mais tão relevante. A partir do segundo trimestre, haverá um impacto
maior da crise europeia, que joga por terra a expectativa de recuperação da
atividade que tínhamos a partir daí.
Valor: A piora das expectativas afetou sua projeção de crescimento
para o ano?
Vale: Cortei para 2,5% minha projeção para o PIB deste ano nesta
semana com a percepção de piora da crise na zona do euro. A falta de decisão
política na Grécia joga contra as expectativas de recuperação e, até as
eleições em junho nesse país, haverá uma volatilidade extrema. É difícil ver
dados positivos de atividade em maio e junho. Teremos números muito ruins. Acho
que no PIB do segundo trimestre veremos um número muito próximo do visto no
primeiro.
Valor: Quais serão os principais canais de transmissão da piora do
cenário externo para a economia doméstica? O impacto pode ser maior do que o da
crise de 2008/2009?
Vale: A crise internacional é como se fosse uma alavanca que piora
ainda mais a situação da indústria. Cai a exportação de manufaturados, há corte
de financiamentos, o sistema bancário pode paralisar a concessão de crédito
esperando para ver quais os efeitos da crise, que pode, sim, ser ainda pior do
que a de 2008. Depois da quebra do Lehman Brothers, você colocou o mundo
inteiro para tentar sair da crise. Nesse período de quase quatro anos após a
crise, o mundo ficou muito desajustado. O problema não é só na Grécia e essa
crise pode levar muito mais tempo para ser resolvida.
Valor: A crise externa reduz o possível impacto da redução das taxas
de juros pelos bancos?
Vale: Ela coloca risco para os bancos públicos, porque o governo vai
querer forçar esses bancos a dar ainda mais crédito. Vejo isso com dificuldade
neste momento, porque não temos muita força para fazer isso. Talvez fosse
interessante o governo pensar que se de fato houver uma ruptura na Grécia, ele
vai poder agir mais do que agiu em 2008 e 2009. Nesses anos o BC levou dez
meses para derrubar a Selic em cinco pontos percentuais. Agora, se de fato
houver uma saída da Grécia, em seis meses a Selic pode ser cortada em 3,5 pp.,
podendo chegar a 5% ao ano em 2013.
Valor: Nesse cenário, não seria mais preciso voltar a aumentar a Selic
após uma retomada da atividade econômica em 2013?
Vale: Não. Vão ser três anos de crescimento baixo: 2011, 2012 e 2013.
Esse cenário abre espaço para o Banco Central ser um pouco mais ousado e
colocar o juro abaixo de 8% já neste ano. Tem grandes chances de a Selic ir
para 7,5% já em agosto. Esse ainda não é meu cenário base, mas com dados de
inflação baixos e PIB novamente fraco no segundo trimestre, o BC estará
confortável, mesmo sem nenhuma ruptura, para trazer a Selic para 7,5%.
Fonte: Valor
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