segunda-feira, 21 de maio de 2012

Economia pode crescer menos que 2,7% em 2012, prevê MB Associados

O fraco crescimento apontado pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que avançou apenas 0,15% sobre o último trimestre de 2011, feitos os ajustes sazonais, coloca em xeque a recuperação da economia esperada a partir do segundo trimestre e, aliado à piora do cenário internacional, sinaliza que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 será até menor do que os 2,7% registrados em 2011.

A avaliação é do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, para quem a recente deterioração do quadro externo pode ter um impacto ainda maior do que a crise de 2008 na economia doméstica. “Serão três anos de crescimento baixo”, projeta. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: O que o dado do IBC-Br sinaliza para o PIB do primeiro trimestre?
Sérgio Vale: Ele veio bem fraco e captou a tendência de desaceleração no primeiro trimestre em relação aos trimestres anteriores. Permanecemos projetando que o PIB cresceu 0,5% em relação ao último trimestre de 2011 [série com ajuste sazonal], mas realmente o sentido é de desaceleração, pode ser até algo mais baixo do que isso. A essa altura, contudo, o primeiro trimestre já não é mais tão relevante. A partir do segundo trimestre, haverá um impacto maior da crise europeia, que joga por terra a expectativa de recuperação da atividade que tínhamos a partir daí.

Valor: A piora das expectativas afetou sua projeção de crescimento para o ano?
Vale: Cortei para 2,5% minha projeção para o PIB deste ano nesta semana com a percepção de piora da crise na zona do euro. A falta de decisão política na Grécia joga contra as expectativas de recuperação e, até as eleições em junho nesse país, haverá uma volatilidade extrema. É difícil ver dados positivos de atividade em maio e junho. Teremos números muito ruins. Acho que no PIB do segundo trimestre veremos um número muito próximo do visto no primeiro.

Valor: Quais serão os principais canais de transmissão da piora do cenário externo para a economia doméstica? O impacto pode ser maior do que o da crise de 2008/2009?
Vale: A crise internacional é como se fosse uma alavanca que piora ainda mais a situação da indústria. Cai a exportação de manufaturados, há corte de financiamentos, o sistema bancário pode paralisar a concessão de crédito esperando para ver quais os efeitos da crise, que pode, sim, ser ainda pior do que a de 2008. Depois da quebra do Lehman Brothers, você colocou o mundo inteiro para tentar sair da crise. Nesse período de quase quatro anos após a crise, o mundo ficou muito desajustado. O problema não é só na Grécia e essa crise pode levar muito mais tempo para ser resolvida.

Valor: A crise externa reduz o possível impacto da redução das taxas de juros pelos bancos?
Vale: Ela coloca risco para os bancos públicos, porque o governo vai querer forçar esses bancos a dar ainda mais crédito. Vejo isso com dificuldade neste momento, porque não temos muita força para fazer isso. Talvez fosse interessante o governo pensar que se de fato houver uma ruptura na Grécia, ele vai poder agir mais do que agiu em 2008 e 2009. Nesses anos o BC levou dez meses para derrubar a Selic em cinco pontos percentuais. Agora, se de fato houver uma saída da Grécia, em seis meses a Selic pode ser cortada em 3,5 pp., podendo chegar a 5% ao ano em 2013.

Valor: Nesse cenário, não seria mais preciso voltar a aumentar a Selic após uma retomada da atividade econômica em 2013?
Vale: Não. Vão ser três anos de crescimento baixo: 2011, 2012 e 2013. Esse cenário abre espaço para o Banco Central ser um pouco mais ousado e colocar o juro abaixo de 8% já neste ano. Tem grandes chances de a Selic ir para 7,5% já em agosto. Esse ainda não é meu cenário base, mas com dados de inflação baixos e PIB novamente fraco no segundo trimestre, o BC estará confortável, mesmo sem nenhuma ruptura, para trazer a Selic para 7,5%.


Fonte: Valor

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