A retomada da economia, que começou lenta entre junho e julho, deve ter ganhado força em agosto.
A
retomada da economia, que começou lenta entre junho e julho, deve ter
ganhado força em agosto. Na avaliação de economistas ouvidos pelo Valor,
indicadores como o fluxo de veículos pesados nas estradas, o aumento da
expedição de papel ondulado e a elevação da confiança do empresário
reforçaram a perspectiva de que a produção industrial, impulsionada por
uma conjuntura mais favorável e não mais apenas pelos estímulos fiscais
concedidos pelo governo, teve crescimento bem mais forte e disseminado
no mês passado.
Com
maior contribuição da indústria, economistas projetam que a atividade
pode ter crescido 1% em agosto em relação a julho, feitos os ajustes
sazonais, após alta de 0,42% na medição anterior, segundo o Índice de
Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br).
Essa
aceleração corrobora expectativas de que o Produto Interno Bruto (PIB) -
indicador para o qual o IBC-Br é considerado um termômetro - avançou a
um ritmo anualizado próximo a 4% já no terceiro trimestre.
Robson
Pereira, economista do Bradesco, projeta alta de 1,5% da atividade nas
fábricas em agosto sobre julho, número ainda sujeito a revisões. Para
ele, o avanço dessazonalizado de 1,4% do Índice de Confiança da
Indústria (ICI) da Fundação Getulio Vargas (FGV), entre julho e agosto, e
o aumento no nível de utilização da capacidade instalada - que no mesmo
período cresceu 0,3 ponto porcentual, para 84% - são indícios de que a
produção deve reagir mais do que nos meses recentes. Em julho, a
expansão da indústria foi apenas 0,3% superior na comparação com junho.
Pereira
cita ainda a alta do Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em
inglês), do HSBC, que subiu de 48,7 pontos em julho para 49,3 pontos em
agosto, e os dados do fluxo de veículos pesados nas estradas como sinais
de produção maior. Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias
de Rodovias (ABCR), esse movimento aumentou 4,4% entre julho e agosto,
na série com ajuste sazonal.
Eduardo
Velho, economista-chefe da Planner Prosper Corretora, estima alta mais
modesta da indústria no período, de 0,4%, mas avalia que esse número
pode ainda surpreender, a depender de dados a serem divulgados, tais
como o consumo de aço. O economista nota a expedição de papelão
ondulado, que subiu 9,6% em relação a julho e 6,5% sobre agosto de 2011.
'O indicador de embalagens sinaliza uma recuperação mais generalizada,
já que mostra atividade mais aquecida no setor de limpeza, alimentos e
produtos de higiene', afirmou Velho.
Ele
acredita que a retomada mais pronunciada, esperada para agosto, tende a
se manter ao longo dos próximos meses. Por isso, projeta que o Produto
Interno Bruto (PIB) tenha alta de 0,9% no terceiro trimestre ante o
segundo, aceleração significativa em relação ao resultado anterior,
quando o avanço foi de 0,4%.
'Uma
recuperação dessa magnitude nunca está atrelada somente a um setor',
diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, para quem a
indústria deve ter crescido 0,9% em agosto sobre o mesmo mês do ano
passado, após 11 quedas nesse tipo de comparação. Em termos
dessazonalizados, essa variação resultaria em alta de quase 2% sobre
julho.
Uma
conjuntura interna 'mais tranquila', sustenta Vale, com dados melhores
de renda e crédito, deve permitir reação mais espalhada da produção a
partir do terceiro trimestre, embora nada muito brilhante esteja em seu
radar, devido ao peso negativo que continua sendo exercido pelo cenário
externo. 'O quadro internacional segue desafiador', avalia.
Um
ajuste mais expressivo dos estoques também foi decisivo para que outros
setores voltassem a aumentar sua produção em agosto, diz o
economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. A FGV calcula que os
inventários recuaram 0,5% sobre julho. Em 31,7 pontos em junho, a
diferença entre as empresas com estoques excessivos e insuficientes
passou para 14,2 pontos no mês passado. 'Essa questão estava pesando
muito no primeiro semestre e, uma vez ajustada, permite uma recuperação
mais disseminada', explicou Borges, que prevê alta entre 1,5% e 2% para a
indústria em agosto sobre julho.
O
Itaú Unibanco projeta avanço de 1,5% da produção na passagem mensal,
citando, além dos indicadores já mencionados, a alta do consumo de
energia de 1,1% no mesmo período, variação mais forte desde fevereiro.
Espera-se também, diz em nota o economista Aurélio Bicalho, que a
recuperação tenha sido mais espalhada do que em meses anteriores, quando
o impulso partiu do setor automotivo.
Para
as vendas no varejo ampliado, que incluem veículos e material de
construção, o Itaú prevê salto de 2,2% no período. Nos cálculos
preliminares do PIB mensal do banco, agosto deve mostrar alta de 0,7% da
atividade, sustentando estimativa de avanço de 1,2% do PIB brasileiro
entre o segundo e o terceiro trimestres, com ajuste.
Para
a MCM, a indústria deve ser a principal responsável pela retomada de
fôlego da economia brasileira em agosto, com alta de 2% da produção
física, segundo Leandro Padulla, economista da consultoria. Com aumento
de produção e também de vendas, argumenta Padulla, o PIB do terceiro
trimestre deve avançar 1% em relação ao segundo.
A
Tendências calcula avanço de 1,6% da produção nas fábricas no período,
estimativa que, segundo o economista Rafael Bacciotti, ainda pode sofrer
revisão para cima. Para Bacciotti, o varejo ampliado também deve se
recuperar da retração de 1,5% em julho. Por isso, diz ele, os
indicadores divulgados até o momento confirmam a previsão da consultoria
de crescimento de 1,1% do PIB no terceiro trimestre.
Fonte: Valor