Guido Mantega não deixa de acrescentar que uma recuperação está
em curso e reafirmou a expectativa de que o segundo semestre será bem
melhor.
O
ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu o braço a torcer e revisou para
baixo a expectativa de crescimento da economia brasileira. No início do
ano, Mantega previa expansão de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Há
menos de três meses, chegou a classificar de 'piada' a projeção de uma
instituição financeira que situava em 1,5% o crescimento econômico deste
ano. Agora, já admite taxa de apenas 2%, abaixo dos 2,5% esperados pelo
Banco Central (BC) e dos 2,7% registrados em 2011.
Mantega
refez seu prognóstico depois que soube que o Produto Interno Bruto
(PIB) cresceu apenas 0,4% no segundo trimestre sobre o primeiro,
acumulando 1,2% em quatro trimestres. Mas, eternamente otimista, o
ministro não deixa de acrescentar que uma recuperação está em curso e
reafirmou a expectativa de que o segundo semestre será bem melhor, com a
economia crescendo no ritmo de 4%. Na Fazenda, já se fala em taxas
ainda maiores, perto de 5%.
Nesse
ponto o ministro tem razão. Há vários indicadores que mostram uma
melhora da economia. A produção industrial voltou a crescer em julho,
0,3%, ligeiramente acima do 0,2% de junho, e a maior taxa de expansão
desde agosto de 2011. No ano, porém, a produção industrial ainda acumula
queda, de 3,7%. Já o emprego industrial e as horas pagas na indústria,
que vinham de quatro recuos sucessivos, cresceram em julho.
A
comparação dessazonalizada entre junho e julho mostrou o aumento de
0,8% na produção de bens de consumo duráveis e uma queda de 0,6% na
produção de semiduráveis e não duráveis. A produção de bens
intermediários cresceu 0,5% e a de bens de capital, 1%, na mesma
comparação, indicando provável retomada dos investimentos - uma boa
notícia depois da apuração de que a formação bruta de capital fixo teve
uma queda de 0,7% no segundo trimestre em comparação com o primeiro.
A
recuperação da indústria está claramente concentrada em alguns setores
beneficiados pelas medidas de estímulo de redução do IPI e desoneração
da folha de pagamento tomadas pelo governo. De acordo com cálculos
realizados por consultorias a pedido do Valor (5/9), o resultado de
julho seria uma queda se fossem excluídos os setores beneficiados pelo
governo. A produção de veículos automotores cresceu 4,9% em relação a
junho, feito o ajuste sazonal, contribuindo com aumento de 0,6 ponto
percentual do avanço de 0,3% da produção industrial. Sem os automóveis e
a linha branca, estima-se que a produção industrial teria caído 0,5%.
A
queda foi maior em setores mais voltados para a exportação, afetada
pelas políticas protecionistas da Argentina. Nesse grupo, a produção
caiu 6,2% de janeiro a julho em comparação com igual período de 2011.
Nos setores menos focados na exportação, a produção diminuiu 1,7% na
mesma base de comparação.
As
vendas no varejo tiveram em julho o segundo aumento consecutivo em
relação ao mês anterior, igualmente puxadas pelos produtos beneficiados
pelos estímulos do governo. O crescimento foi de 1,4% em julho,
ligeiramente abaixo do 1,6% do mês anterior, no varejo restrito. Já o
varejo ampliado teve uma queda de 1,5%.
Em
claro sinal de descompasso entre comércio e produção, as vendas de
móveis e eletrodomésticos cresceram em julho 0,7% depois do aumento de
5,2% de junho. Já as vendas de veículos e peças, depois do salto de 23%
de junho, quando a redução do IPI entrou em vigor, caíram 8,9% em julho,
contribuindo para o recuo do varejo ampliado.
As
primeiras informações disponíveis do consumo de energia, fluxo de
veículos pesados nas estradas, vendas de papel ondulado e compras de
cimento indicam que a recuperação continuou e ganhou gás em agosto,
puxada pela indústria, também aliviada pela redução dos estoques (Valor,
17/9).
Mas
permanece a preocupação com a dependência do nível de atividades dos
estímulos distribuídos pelo governo. Em primeiro lugar porque são
localizados e custam a disseminar seus efeitos positivos pela cadeia de
produção; e, em segundo lugar, porque são temporários e, por esse
motivo, suscitam dúvidas em consumidores e produtores a respeito de como
a economia vai se comportar quando forem retirados.
A
maior incógnita de todas, porém, é o cenário internacional, que tende a
continuar desfavorável, com a retração na zona do euro e a
desaceleração nos Estados Unidos, com seu inevitável impacto negativo no
comércio exterior.
Fonte: Valor
Nenhum comentário:
Postar um comentário