quarta-feira, 26 de setembro de 2012

RECUPERAÇÃO GANHA FORMA, APESAR DO CENÁRIO EXTERNO

Guido Mantega não deixa de acrescentar que uma recuperação está em curso e reafirmou a expectativa de que o segundo semestre será bem melhor.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu o braço a torcer e revisou para baixo a expectativa de crescimento da economia brasileira. No início do ano, Mantega previa expansão de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Há menos de três meses, chegou a classificar de 'piada' a projeção de uma instituição financeira que situava em 1,5% o crescimento econômico deste ano. Agora, já admite taxa de apenas 2%, abaixo dos 2,5% esperados pelo Banco Central (BC) e dos 2,7% registrados em 2011.
Mantega refez seu prognóstico depois que soube que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 0,4% no segundo trimestre sobre o primeiro, acumulando 1,2% em quatro trimestres. Mas, eternamente otimista, o ministro não deixa de acrescentar que uma recuperação está em curso e reafirmou a expectativa de que o segundo semestre será bem melhor, com a economia crescendo no ritmo de 4%. Na Fazenda, já se fala em taxas ainda maiores, perto de 5%.

Nesse ponto o ministro tem razão. Há vários indicadores que mostram uma melhora da economia. A produção industrial voltou a crescer em julho, 0,3%, ligeiramente acima do 0,2% de junho, e a maior taxa de expansão desde agosto de 2011. No ano, porém, a produção industrial ainda acumula queda, de 3,7%. Já o emprego industrial e as horas pagas na indústria, que vinham de quatro recuos sucessivos, cresceram em julho.

A comparação dessazonalizada entre junho e julho mostrou o aumento de 0,8% na produção de bens de consumo duráveis e uma queda de 0,6% na produção de semiduráveis e não duráveis. A produção de bens intermediários cresceu 0,5% e a de bens de capital, 1%, na mesma comparação, indicando provável retomada dos investimentos - uma boa notícia depois da apuração de que a formação bruta de capital fixo teve uma queda de 0,7% no segundo trimestre em comparação com o primeiro.

A recuperação da indústria está claramente concentrada em alguns setores beneficiados pelas medidas de estímulo de redução do IPI e desoneração da folha de pagamento tomadas pelo governo. De acordo com cálculos realizados por consultorias a pedido do Valor (5/9), o resultado de julho seria uma queda se fossem excluídos os setores beneficiados pelo governo. A produção de veículos automotores cresceu 4,9% em relação a junho, feito o ajuste sazonal, contribuindo com aumento de 0,6 ponto percentual do avanço de 0,3% da produção industrial. Sem os automóveis e a linha branca, estima-se que a produção industrial teria caído 0,5%.

A queda foi maior em setores mais voltados para a exportação, afetada pelas políticas protecionistas da Argentina. Nesse grupo, a produção caiu 6,2% de janeiro a julho em comparação com igual período de 2011. Nos setores menos focados na exportação, a produção diminuiu 1,7% na mesma base de comparação.

As vendas no varejo tiveram em julho o segundo aumento consecutivo em relação ao mês anterior, igualmente puxadas pelos produtos beneficiados pelos estímulos do governo. O crescimento foi de 1,4% em julho, ligeiramente abaixo do 1,6% do mês anterior, no varejo restrito. Já o varejo ampliado teve uma queda de 1,5%.

Em claro sinal de descompasso entre comércio e produção, as vendas de móveis e eletrodomésticos cresceram em julho 0,7% depois do aumento de 5,2% de junho. Já as vendas de veículos e peças, depois do salto de 23% de junho, quando a redução do IPI entrou em vigor, caíram 8,9% em julho, contribuindo para o recuo do varejo ampliado.

As primeiras informações disponíveis do consumo de energia, fluxo de veículos pesados nas estradas, vendas de papel ondulado e compras de cimento indicam que a recuperação continuou e ganhou gás em agosto, puxada pela indústria, também aliviada pela redução dos estoques (Valor, 17/9).

Mas permanece a preocupação com a dependência do nível de atividades dos estímulos distribuídos pelo governo. Em primeiro lugar porque são localizados e custam a disseminar seus efeitos positivos pela cadeia de produção; e, em segundo lugar, porque são temporários e, por esse motivo, suscitam dúvidas em consumidores e produtores a respeito de como a economia vai se comportar quando forem retirados.

A maior incógnita de todas, porém, é o cenário internacional, que tende a continuar desfavorável, com a retração na zona do euro e a desaceleração nos Estados Unidos, com seu inevitável impacto negativo no comércio exterior.

Fonte: Valor

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