Analistas advertem que essa retomada é decorrente de uma normalização após o tombo no primeiro trimestre.
Após um início de ano marcado por uma brusca queda do
investimento em máquinas e equipamentos, o consumo aparente de bens de
capital teve alguma recuperação no segundo trimestre. Os economistas
consultados pelo Valor divergem em relação à magnitude desse aumento,
mas consideram que a produção nacional (descontada a exportação) somada à
importação desses itens deixou forte variação negativa no primeiro
trimestre para voltar a crescer entre abril e junho, sempre na
comparação com os três meses imediatamente anteriores, feitos os ajustes
sazonais. As contas, contudo, variam de uma fraquíssima alta de 0,1%
até já expressivos 5,7% de recuperação no segundo trimestre frente ao
primeiro.
Analistas advertem que essa retomada é decorrente de uma
normalização após o tombo no primeiro trimestre, já que crescimento mais
intenso dos investimentos só deve ser visto nos últimos três meses do
ano.
Pelos cálculos de Bráulio Borges, economista-chefe da LCA
Consultores, a absorção doméstica desses itens avançou 5,7% no segundo
trimestre sobre o primeiro, na série com ajuste sazonal, após queda de
10% no trimestre anterior, em função da mudança de padrão na emissão de
poluentes por caminhões desde janeiro. Essa alta recente junto com uma
pequena recuperação nas vendas de veículos pesados e ao aumento – também
dessazonalizado pela LCA – de 6% nas importações entre o primeiro e o
segundo trimestres, faz Borges projetar alta próxima de 1% na Formação
Bruta de Capital Fixo (FBCF), medida do que se investe em máquinas e em
construção civil dentro do Produto Interno Bruto (PIB) no período.
Os cálculos de Fernando Rocha, sócio e economista da gestora de
recursos JGP, mostram uma alta mais moderada, embora ainda forte. Puxada
principalmente pelo aumento de 3,6% da produção de bens de capital no
período, a demanda interna por esses itens avançou 3% no segundo
trimestre, sempre em relação ao primeiro, com ajuste. Ainda assim,
afirma Rocha, como o desempenho da construção civil – que é
contabilizada como investimento no PIB – foi mais fraco, a formação de
capital fixo ainda deve recuar algo como 0,5% no segundo trimestre, após
queda de 1,8% nos primeiros três meses do ano passado.
Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda do
investimento no PIB ainda será forte entre abril e junho, de 3,5%,
acentuando as perdas em relação ao recuo de 2,1% observados nos três
primeiros meses do ano, na mesma base de comparação. Para Rocha, o
segundo trimestre marcará o ponto mais baixo da série e daí em diante
haverá recuperação. No fim do ano, estima, o investimento deve crescer
1,7% sobre o quarto trimestre do ano passado.
Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, faz avaliação
semelhante. Para ele, o investimento deve ter crescido entre 0,5% e 1%
entre abril e junho. “O quadro ainda é de fraqueza dos investimentos e
só deve haver recuperação consistente no quarto trimestre, após a
atividade econômica dar sinais mais evidentes de retomada”, afirma. De
acordo com os cálculos do Itaú Unibanco, a demanda doméstica por bens de
capital cresceu 0,1% no segundo trimestre, após queda de 7,5% nos
primeiros três meses do ano.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, tem prognóstico
menos otimista e, em sua visão, o investimento deve continuar
decepcionando no segundo semestre, um dos principais fatores que
explicam sua projeção de apenas 1,5% para o PIB em 2012.
A MB estima que, na passagem do primeiro para o segundo
trimestre, em uma comparação dessazonalizada, a demanda interna por bens
de capital cresceu 0,3%, após forte recuo de 8,4% no período anterior.
Para Vale, o dado, apesar de ter deixado o patamar negativo, é sinal de
um trimestre com investimento ainda parado.
Apesar da pequena retomada no segundo trimestre, nos primeiros
seis meses do ano a demanda doméstica por bens de capital encolheu 10,2%
sobre o mesmo período de 2011, maior tombo nessa base de comparação
desde 2007, segundo os cálculos da MB, com exceção de 2009, ano em que a
crise atingiu em cheio a demanda por bens de capital e a absorção
doméstica desses itens caiu 20,5% no acumulado de janeiro a junho em
relação à primeira metade de 2008.
No primeiro semestre deste ano, período em que a produção total
da indústria encolheu 3,8% em relação à primeira metade de 2011, o
segmento de bens de capital foi o destaque negativo, com produção 12,5%
menor. A importação de bens de capital, por sua vez, seguiu crescendo,
embora em ritmo bem menor que o observado em outros anos. A alta, em
volume, foi de 3,7% na primeira metade do ano frente igual período do
ano passado, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio
Exterior (Funcex), variação vista sem entusiasmo por Rodrigo Branco,
economista da entidade. Em 2011, as compras externas de máquinas haviam
crescido 26,8% nessa comparação, após alta de 24,3% na primeira metade
de 2010.
Vale observa que o resultado negativo no primeiro semestre não se
deve somente à entrada em vigor das novas normas de emissão de
poluentes para caminhões, que antecipou a fabricação de veículos pesados
no ano passado e a paralisou no início do ano. O ramo equipamentos de
transporte, onde estão os caminhões, registrou recuo de 16,8% nos
primeiros seis meses do ano, mas também houve queda na produção de bens
de capital para a construção civil (menos 14,2%), para fins industriais
(menos 1,7%) e para fins industriais seriados (menos 2,8%).
“Ninguém sabe o que vai acontecer com a Europa, há o risco de um
colapso da economia mundial e o investidor fica travado”, diz,
acrescentando que a indústria não deve deslanchar na segunda metade do
ano, mesmo com a expectativa de novas medidas para dinamizar o setor.
Já Aurélio Bicalho, do Itaú, considera que ao longo do terceiro
trimestre a economia deve mostrar reação, com ajuste de estoques na
indústria, aumento da produção e melhora da confiança dos empresários.
Com base nesses fatores, afirma, o investimento também deve reagir, mas a
resposta ficará concentrada nos últimos três meses do ano.
Fonte: Valor
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