quinta-feira, 5 de abril de 2012

PACOTE DO GOVERNO PROTEGE INDÚSTRIA, MAS NÃO DEVE ACELERAR PIB

Conjunto de medidas deve dar vigor temporário à indústria de transformação, mas retomada mais vigorosa do nível de atividade deve ocorrer a partir do

SÃO PAULO - O pacote federal de R$ 60,4 bilhões anunciado nesta quarta-feira, 4, para incentivar alguns setores produtivos não deve contribuir para acelerar o PIB neste ano, segundo economistas ouvidos pela Agência Estado.


O conjunto de medidas, que inclui a desoneração da folha de pagamento de 15 segmentos fabris e redução dos juros de financiamentos concedidos pelo BNDES, deve dar um vigor temporário à indústria de transformação, que sofre forte concorrência dos importados. Mas a retomada mais vigorosa do nível de atividade deve ocorrer a partir do terceiro trimestre, quando a economia deverá estar crescendo, na margem, num ritmo anualizado ao redor de 5%.


Essa não é uma boa notícia para o governo, pois o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou recentemente que "faz diferença" para o crescimento do País em 2012 se o reaquecimento ocorre no segundo ou no terceiro trimestre deste ano. "Não alterei minha projeção de que o Brasil deve registrar uma expansão de 3,5% neste ano, marca distante dos 4,5% esperados pelo governo", afirmou o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni.


Na avaliação do co-diretor de pesquisas para a América Latina da Goldman Sachs, Alberto Ramos, as ações divulgadas pelo governo devem ter algum impacto de curto prazo sobre o nível de atividade. Ele reforçou, no entanto, que não vai alterar a velocidade do PIB ao longo do ano.


Na margem, Ramos espera que o PIB deverá registrar um avanço de 0,8% no primeiro trimestre e acelerar um pouco para 1% entre abril e junho. Para o segundo semestre, ele espera que o ritmo do Produto Interno Bruto continuará em gradual ascensão, pois deve exibir alta de 1,2% no terceiro trimestre e alcançar 1,4% entre outubro e dezembro, resultando em alta do PIB entre 3% e 3,5% em 2012.


"Seria mais eficiente para a economia que o governo dedicasse os R$ 60,4 bilhões de incentivos anunciados ontem para projetos de infraestrutura, pois isso melhoria a logística do País e reduziria as despesas das companhias em transporte", destacou.


O diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti, concorda. "As ações do governo são emergenciais e visam defender o setor manufatureiro. O ideal seria a adoção de medidas estruturais de médio prazo para reduzir custos tributários e trabalhistas das empresas."


O economista da Tendências Silvio Campos Neto também aposta que o pacote não mudará a dinâmica do incremento do PIB neste ano, porque o foco é proteger a indústria de transformação. "A economia seria melhor beneficiada pela ação oficial em outras frentes, como a redução das despesas de custeio e ampliação dos gastos com investimentos em projetos de longa maturação, como rodovias, ferrovias e portos", afirmou.


Embora ressalte que grande parte dos recursos do Orçamento são "engessados" e estão comprometidos para serem direcionados a uma série de áreas, como educação, saúde e repasses para Estados e municípios, Campos Neto ressalta que o governo pode fazer mais em matéria de redução de gastos. O volume da arrecadação federal neste ano será volumoso, em torno de R$ 1,045 trilhão, segundo estimativa da consultoria. "Os investimentos do governo estão em um patamar muito baixo, ao redor de 1% do PIB. Se as despesas com custeio fossem cortados em 0,5% ou 1% do PIB, os investimentos do poder público teriam um grande avanço e isso seria positivo para toda a economia", disse Campos Neto.


Para o economista e sócio da consultoria MCM Antônio Madeira, um dos fatos mais significativos do pacote anunciado pelo governo foi o fortalecimento do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). O governo criou uma nova linha de R$ 8 bilhões para "projetos transformadores", que serão destinados a empresas para ampliar sua capacidade tecnológica de produção. "As linhas de financiamento do PSI devem reduzir os custos dos investimentos ao elevar as perspectivas de retorno dos projetos", comentou.


Na avaliação de Madeira, mais importante que medidas pontuais para proteger a indústria nacional seria o governo adotar ações horizontais, cujos efeitos seriam registrados por toda a oferta de mercadorias e serviços no País. "Seria fundamental a queda da Selic, que ainda está em 9,75% ao ano, e medidas para estimular a concessão de crédito", disse. "Também seria importante uma queda mais expressiva das taxas de spread das operações bancárias em todo o sistema financeiro nacional", opinou. (Ricardo Leopoldo)


Fonte: O Estado de SPaulo

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