sexta-feira, 1 de junho de 2012

ESTOQUE SOBE E INDÚSTRIA REDUZ PROJEÇÕES

Os empresários reduziram novamente a previsão de produção para os próximos três meses, segundo o levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV).

A Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação mostrou que a situação dos estoques voltou a incomodar o setor de forma mais pronunciada em maio. Para acomodar a situação, os empresários reduziram novamente a previsão de produção para os próximos três meses, segundo o levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV). Na avaliação de Aloisio Campelo, coordenador da pesquisa, a combinação das duas variáveis deve levar a uma retração da produção industrial no segundo trimestre, prorrogando para os últimos seis meses de 2012 a expectativa de uma recuperação menos tímida do setor.

Em maio, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) ficou em 103,4 pontos, aumento de 0,1% em relação ao mês anterior, feitos os ajustes sazonais. Nos últimos três meses, o índice avançou apenas 0,4%, mostrando uma recuperação mais fraca do que era antecipado, avalia Campelo, por causa da piora da percepção em relação à situação atual, cujo índice recuou 0,5% na passagem mensal e 0,3% no trimestre.

Para Campelo, o nível de estoques, que aparentava um processo de ajuste desde o início deste ano, teve papel relevante na deterioração da confiança com o quadro atual da indústria. O indicador, que recuou 5,3 pontos entre dezembro e abril deste ano, voltou a piorar em maio e subiu 2%, para 104,6 pontos, na comparação com o mês anterior.


O número de setores em que a diferença entre o percentual de empresas que considera ter estoques excessivos é igual ou maior a 10 pontos em relação às companhias com estoques insuficientes passou de quatro em abril para seis em maio.


A deterioração mais sensível ocorreu no setor de material de transporte, que engloba toda a cadeia automobilística, segundo o coordenador da sondagem. A diferença, que era de 9,2 pontos em abril, alcançou 19,9 pontos em maio, pior nível desde janeiro de 2009. No segmento automobilístico, 28,3% das empresas pesquisadas disseram ter estoques excessivos, enquanto nenhuma considerou os estoques insuficientes.


Como forma de ajustar os inventários, afirmou Campelo, a produção prevista para os próximos três meses (incluindo o mês atual) caiu 1% entre abril e maio, sempre considerando os ajustes sazonais. O ritmo de desaceleração se acentuou em relação à queda de 0,8% registrada na passagem entre março e abril.


Para Campelo, combinados, os dois resultados reforçam a percepção de que a retomada ainda é muito lenta no setor industrial. "A indústria de transformação já está há alguns trimestres em queda e é muito possível que haja um novo recuo no segundo trimestre do ano, muito influenciado pelo segmento de bens duráveis", avalia.


A retomada da atividade industrial, disse Campelo, também esbarra em outro problema, que é o ciclo de endividamento do consumidor e certa saturação da demanda interna. No caso de material de transporte, por exemplo, a percepção sobre a demanda doméstica está cerca de 30 pontos distante da média para os últimos cinco anos. Ao longo dos próximos meses, afirma, o quadro deve melhorar, à medida que a redução dos juros contribuir para que o consumidor consiga equilibrar o orçamento.


Na ponta, já houve alguma melhora. A demanda interna avançou de 104,3 pontos em abril para 106,5 pontos em maio. A percepção sobre a demanda externa, que vinha em queda desde dezembro do ano passado, teve forte alta de 6,7% na comparação com abril, apesar da deterioração das condições da economia internacional no período. Para Aloisio Campelo, a desvalorização do real ante o dólar jogou papel importante nessa inversão de rumo. "O empresário do setor industrial sente que ganhou competitividade e, consequentemente, mais mercado", afirmou.


Para Campelo, no entanto, as medidas de estímulo já anunciadas pelo governo e os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento da política monetária devem ter efeito mais pronunciado apenas no segundo semestre. Para ele, reforça essa hipótese o indicador de situação futura dos negócios, que mede expectativas para os próximos seis meses. Após alta de 4,4% em abril, o índice subiu 0,3% em maio, para 144,6 pontos. Dentre os quesitos pesquisados pela FGV, esse é o único que supera a média para os últimos cinco anos.



Fonte: Valor

Nenhum comentário:

Postar um comentário