Segundo levantamento da Agência Estado com 72 instituições, juro
básico da economia deve subir para 7,75%, nível verificado pela última
vez em julho de 2012
Levantamento final do AE Projeções sobre a reunião de maio do Comitê
de Política Monetária (Copom) mostra que não há uma sintonia no mercado
financeiro quanto ao tamanho da alta na taxa de juro básico (Selic) no
encontro que a diretoria do Banco Central realiza nesta terça e
quarta-feira. De um total de 72 instituições consultadas, 37 preveem
aumento de 0,25 ponto porcentual e 34 esperam elevação de 0,50 ponto
porcentual. Se confirmada a expectativa de 0,25 ponto porcentual, o juro
irá para 7,75%, nível verificado em julho de 2012, quando a Selic
estava em 8%. Em agosto daquele ano, já foi reduzida para 7,5% ao ano.
A GO Associados é a única instituição da sondagem que acredita em manutenção da taxa no nível atual de 7,50% ao ano.
Na pesquisa parcial do serviço especializado do Broadcast com 48
casas, divulgada na segunda-feira (20), a maioria (35 instituições)
projetava expansão da Selic a 7,75% e apenas 12 acreditavam em alta para
8,00%. Diante de novas avaliações do mercado sobre as palavras mais
firmes do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ditas
recentemente e reforçadas no último dia 21 no Congresso Nacional, alguns
analistas que esperavam aumento de 0,25 ponto mudaram suas expectativas
para alta de 0,50 ponto porcentual no atual levantamento. Segundo
Tombini, o BC agirá com a devida ‘tempestividade’ para que os preços
continuem recuando no País.
Mesmo que a inflação esteja desacelerando na margem, os economistas
também acreditam que tal arrefecimento não deve alterar a perspectiva de
resistência dos preços ao longo do ano. Esta avaliação pesaria a favor
de um aumento de 0,50 ponto porcentual, capaz de provocar, segundo uma
boa parte dos analistas, uma reação mais positiva na coordenação das
expectativas.
Um agravante que pesa tanto para o lado dos que acreditam em alta de
0,25 ponto quanto para os que preveem ajuste de 0,50 ponto porcentual é o
cenário externo incerto. Para o primeiro grupo, por exemplo, este
detalhe foi enfaticamente citado no comunicado e na ata da reunião de
abril do Copom como motivo para cautela na política monetária.
Estes mesmos profissionais concordam até que um aumento de 0,50 ponto
na taxa de juros poderia causar importante alívio na inflação. Alertam,
porém, que o efeito de uma Selic mais alta poderia postergar o ainda
lento processo de recuperação da atividade que vem sendo observado no
governo Dilma Rousseff.
Diante do cenário complexo para a política monetária, algumas casas
preferiram não participar do levantamento do AE Projeções, para seguir
discutindo as variáveis para o futuro da Selic e cravar, posteriormente,
uma expectativa. Este mesmo motivo fez com que duas instituições
participantes da pesquisa parcial também optassem pela saída da sondagem
finalizada nesta quinta-feira.
O economista-chefe do Banco Sicredi, Alexandre Englert Barbosa,
admite que cresceram os riscos de o BC subir a Selic em 0,50 ponto
porcentual, depois das declarações de Tombini e do diretor de Política
Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, este último no fim de
abril. Segundo Hamilton, ‘o Copom poderá ser instado a refletir sobre a
possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política
monetária’.
‘Entretanto, não há alteração no cenário interno e externo no período
entre reuniões que justifique uma decisão diferente da tomada naquela
oportunidade’, ponderou Barbosa, que continua esperando ajuste de 0,25
ponto porcentual. ‘Estamos apostando na coerência do Copom, mesmo que
esta não seja a melhor decisão para conter a pressão inflacionária.’
A economista Camila Alhadeff Monteiro, do Bank of New York Mellon ARX
Investimentos, que mudou sua projeção de alta da Selic, de 0,25 para
0,50 ponto porcentual, conta que já estava propensa a alterar sua
expectativa. Ela afirma que a ideia ganhou corpo depois das declarações
do presidente do BC, durante seminário no Rio, ainda no dia 16, quando
ele agregou ao seu discurso a expressão ‘com a devida tempestividade’,
em relação a estar atento à evolução da inflação. ‘Desta vez, a
sinalização de aceleração (dos juros) é muito clara e ainda foi repetida
por Tombini (no último dia 21 no Congresso Nacional). Ou seja, não
teria porque ele ter incluído o ‘tempestivamente”, comenta.
Camila diz, contudo, não estar convicta de que a alta será de 0,50
ponto porcentual nesta reunião, por considerar ruidosa a comunicação da
atual gestão do Banco Central. Além disso, ressalta que há dúvida quanto
ao ambiente internacional, que deve ganhar peso muito grande na decisão
do Copom.
‘Sabemos que, lá dentro, há membros muito preocupados com a parte
externa e é difícil apurar voto a voto. É um contraponto que torna nossa
convicção menor (de alta de 0,50 ponto)’, salienta. ‘Nossa baixa
convicção ainda é justificada pelo fato de o Banco Central estar remando
contra a maré, subindo juros, em um ambiente em que os bancos centrais
do mundo têm reduzido a taxa’, completa Camila.
Para Fábio Silveira, diretor de Pesquisas Econômicas da GO
Associados, o fato de os preços, segundo ele, estarem arrefecendo na
ponta (pesquisas mais recentes) deverá fazer com que o BC decida por
manter a taxa Selic em 7,50% na reunião de maio. De acordo com o
economista, a deflação no atacado ainda não foi totalmente incorporada
pelos indicadores ao consumidor.
Fonte: Estadão
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